segunda-feira, 31 de outubro de 2011

linha e agulha.

pra você,

a palma da mão dele me dizia tudo.
por isso, e só por isso, não me preocupei em segurá-la enquanto caminhava.
Deus e eu, nós sabemos que ela não irá me soltar.

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pra ele,

- quero acordar com a boca colada na sua nuca. - ele disse.
e assim nasce minha paixão completamente minha. porque eu não a dividiria nem com ele.
ela é tão perfeitamente confusa que é impossível não se apaixonar pela sensação de estar apaixonada por ele.
e nesse ciclo, sua ausência nem me distrai. 
me atrai energicamente até a sua maldita boca que me bem diz.
seremos loucos mas felizes. 
o negózio é sermos.


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 só pra ele,

então nossas roupas nos enganavam constantemente só para ficarem juntas, e nossos corpos nús pendurados num varal sem futuro algum.
vamos cair logo. a terra estará suja mas nossas roupas ficarão juntas.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

a arte de atrair desocupados

é sempre assim.
mas eu só peço que seja um por vez.
os psicopatas.
primeiro alguém vai roubar minha vida virtual de no vo.
depois vai se dizer ignorado e esquecido.
e pior, vai achar que de alguma forma estarei ofendida.
que lisonjeio.
não tenho tempo pra me importar, sabe?
com o que você acha que importa. não há tempo.
tem gente deixando de existir por aí, e se não é seu dever pensar em algo pra ajudar, eu me sinto na obrigação.
e é feliz. mesmo que dificil, é tão feliz.

você não entenderia isso, porque passa muito tempo na frente do computador, vasculhando a vida alheia e se gozando sob o teclado do seu super descolado personal computer.

compute isso, seu puto!

abracinho.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

lençóis de mil fios.

quem não se assustaria.
se tentassem te roubar a alma com narinas alheias?!
esforço vão do tinhoso, desejoso de consumirme os dias
e a noite usar meus pecados e fazer-me deusa.

silenciosa, saio e ouço os passos do silêncio fazendo-me companhia.
meu salto fajuto pertuba toda a presença que remete a silêncio
odioso como sempre, sorri e dobra a esquina levando seu sorriso consigo

eu tive que sair. eu tive que ir embora. - te digo
me apertava com tanta força que senti meu corpo fundir-se ao teu.
mas a alma não. não com narinas. não com teu corpo.
nem com pactos sutis.

Deus, lá de cima deve me olhar e nãome ver.

- boa sorte, Iza.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

PAX in Brasas

eu sei do nosso não gostar recíproco, ou da nossa indiferença mútua.
sei do nosso compartilhar de asco.
sei de tudo que é nosso.
e sei que não é nada.
por isso, só por isso que eu não gostaria de gastar o meu gostar em odiar você.
porque se eu te odiasse, remeteria ao clichê irremediável que um dia te amei.
e isso é esquecível.
porque assim, teríamos alguma coisa. e não queremos que isso aconteça.
se mantermos toda a nossa mutualidade (SECRETA) em nos desprezarmos (não gratuitamente) , podemos conviver assim, sem odiar um ao outro.
mas você instiga minha irritabilidade e eu não sei discutir com quem eu não gosto.
porque nunca me interessa. porque você não existiu. porque eu inventei você na minha cabeça como invento todos os meus amigos imaginários. porque não têm significância e eu minto muito mal.
enfim  meu bem, não me faz gostar de te odiar. ou melhor, nem me deixa te odiar, porque aí eu gostaria.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

sempre Quase


Ela quase sempre estava apaixonada por ele. Quase sempre era fim de noite e ele estava deitado no sofá avaliando a economia do país. Ela não conseguia ouvir uma palavra de sua boca. Só imaginava o quanto era interessante ter alguém para aprender economia quando ela quisesse. Ela o encarava da mesinha do computador, com olhos desejosos e ele não ignorava. Ele sorria e pedia pra ela se ajoelhar. Ela se prostrava e adorava seu sêmen. E eles gostavam. E era doce, quase sempre.
O mundo era quase bom, os dias eram sempre péssimos.
Eles estavam quase sempre tentando fazer alguma coisa. Quase sempre não faziam nada. Trocar lâmpadas, lavar a louça, sorrir para parentes, pagar as contas.
Era uma desordem educada, que quase sempre dava em merda.
Quase sempre eles se odiavam. Ela agarrava-se nas pernas peludas de Getúlio pedindo clemência. e quase sempre ele a odiava nesse momento, mas não conseguia chutá-la.
Quase sempre ela o chutava.
- acorde. – dizia Cândice, ao se encolher entre os lençóis pálidos.
Quase sempre eles eram felizes e geralmente era domingo e fazia chuva. A cama, a ausência de roupa e as fotografias do álbum de casamento para ordenar.
Quase sempre eles davam certo.
 Quase nunca eles se deixariam.

Status: Quo

 Status
assim, não existo. porque não penso.
eu não sei pensar. sei agir. ou penso demais e termino fazendo o contrário. logo, meu pensar é Nulo.
tudo bem.
eu não preciso existir mesmo.

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Quo
é aquela agonia que precede a guerra.
posso sentir o cheiro de sangue dilatando as narinas num piscar de olhos salivantes.
eu digo o que condiz. eu gosto é do estrago.

in statu quo res erant ante bellum

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Conto de Amara



A pele era macia e tão luminosa. Amara se acolheu naquele braço inalando um aroma feliz e igualmente macio. Enquanto a maciez entrava em suas narinas pequenas, Amara pensava em como seria o mar. Já ouvira falar do figurão inúmeras vezes “sim. Deverá ser imenso e azul” um pensamento resumido, perto de tudo que se passava em sua cabeça.
- veremos peixes, titia? – perguntou.
- muito pouco provável querida.
“com sorte, veremos sim!”  pensava Amara.
- e veremos muitos pássaros também! – suspirou a pequena, se acolhendo ainda mais nos braços sardentos de sua tia.
Cássia sentia-se feliz em levar sua pequena sobrinha para ver o mar pela primeira vez. Mesmo sendo uma obrigação, era prazerosa. Cássia sabia que se ela não o fizesse ninguém mais o faria; Afinal, Amara era órfã e seus avós eram muito idosos para agüentarem toda aquela energia. Durante o longo percurso, Cássia não consegue evitar o saudosismo: “seria completo se o Augusto nos levasse. porque ficamos esperando a vida começar? O que faz ela começar?” e óbvio “porque Augusto me deixou? O que faz uma mulher de meia-idade abandonada? E pior! Porque a porra da vida não começa?! Onde está o maldito “pra sempre” que sempre falam?!”
Ao fundo ouvia uma voz fina empolgada, fazendo mil perguntas. Cássia não respondeu nenhuma delas. Invés disso, sorria e lhe olhava nos olhos, imaginando se também era cheia de sonhos e expectativas quando tinha a idade de Amara. A pequena não se importava com o percurso longo, com o ônibus coletivo lotado, muito menos com os odores expelidos naquele coletivo, afinal ela tinha os braços de sua Titia para lhe salvar.
Nesse momento, Amara dá um pulo e aponta:
- olha ele ali! Eu sabia que era mais bonito que na tevê. – e fez um respirar profundo, pressentindo o cheiro azul de sal.
Cássia sorri, espera o ônibus parar e segura aquela mãozinha rechonchuda deixando-se conduzir pelos passos embriagados infantis de sua sobrinha, que ainda reclama:
- vemlogotitia!
Como se toda aquela massa de água pudesse se deslocar em cinco minutos para o oco do mundo, só pra Amara ficar aborrecida.
Escolheram um quadrado na areia quente e branca, estenderam uma toalha colorida, e com poucos olhares Tia Cássia repreendia a pressa da sobrinha que não se intimidava e não cansava de dar pulos e apressá-la.
Cássia, sem pressa passava o bloqueador solar na menina gorduchinha, e a apertava levemente, sem perceber Amara transmitia toda a felicidade necessária para mantê-la viva. Cássia nunca havia reparado como os grânulos da areia se ajustam perfeitamente aos pés das pessoas, num massagear esfoliante agradável, quase superestimado.
Soltou a menina. Que saiu correndo para o mar e foi engolida na primeira quebra de onda. Sua tia olhou assustada, mas Amara levantou a cabeça, recuperou o fôlego descabelada e soltou aquele sorriso banguela satisfeito.
Não desistiu, um pulo, dois pulos, um mergulho desengonçado. E lá estava ela, arriscando seu nadar pela primeira vez no mar. Amara parecia imensa na imensidão do mar.
Titia Cássia não resistiu e juntou-se a ela. Temerosa, arrastava a sobrinha em direção a parte mais rasa próximo a praia. Mas Amara, dava de ombros e sumia embaixo da água esverdeada.
- do que você tem medo, titia?! Eu não deixarei você se afogar!
Cássia deu um suspiro profundo e pensou “isso foi o mais próximo do “pra sempre” que já vivenciei”.
As duas brincaram durante horas, como se tivessem achado um equilíbrio em toda aquela discrepância de idade. Até seus dedos enrugarem como os de duas velhinhas, até Cássia convencer Amara que precisavam de comida e até Amara convencer Cássia que havia visto um peixe.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

pretérito mais-que-perfeito

eu era jovem e não deixava as coisas acontecerem. e fazia tudo acontecer. e aconteciam. os estragos, as sobras, os momentos, músicas, blogs e uma vontade danada de escrever.eu absorvia tudo. sem o menor cuidado. escrever importava muito. escrever era tudo o que eu sabia.
escrever me definia.
as coisas não mudaram muito. só o suficiente. percebo que ocupo boa parte do meu tempo com coisas que não me definem. não é meu curso, nem meu emprego, meus amores, nem fazer parte de entidades, muito menos fazer parte de partidos.
isso não me define.
meu pretérito já me definiu.
meu futuro do pretérito talvez defina meu presente. certamente... certamente.

hoje Ella Fitzgerald cantando Cole Poter "So In Love" me define.

domingo, 9 de outubro de 2011

whole wide world



então ele a convidou para entrar. Ele ficou estático observando a calmaria de seus passos dentro de sua casa. Delicadamente dedilhava os móveis da casa como se estivesse absorvendo as vivências de Noel naquele lar. Tomaram duas cervejas, cada um deles e Noel ofereceu prontamente as sobras chinesas do almoço do dia anterior. Eliza aceitou. Comeram com as mãos. Eliza lambia sexualmente os dedos, Noel sabia da exibição e a esperava lisonjeado. Ele ficou imaginando como ela fica bonita em sua casa. Não como um enfeite ou um quadro. Eliza Não. Ela era como uma lâmpada. Como se todo aquele mobiliário sem uso, começasse a ter funcionalidade.. agora, a louça para o jantar que sua mãe comprara com a aquisição da casa, tinha porque ser posta. Os vasos, podiam ter flores. E Eliza ficaria linda em seu chuveiro raspando as pernas. Noel, imaginou comendo ela em todos os cantos da casa.
ela sorri segura como se pudesse ouvir os pensamentos do rapaz.  Levanta-se e vai lavar as mãos. Fica ouvindo do banheiro Noel arriscando no violão “Whole Wide World”.
Ele tocava de olhos fechados com a voz muito baixa. Quase um sussurro.
- There's only one girl in the world for you. And she probably lives in Tahiti... I'd go the whole wide world....
Ele estava tão complacente em seu sofá amassado. Eliza sentou-se a seu lado tentando entender o que estava acontecendo. De repente um desejo enorme saia pelos seus poros. E ela de mãos suadas com um sorriso no canto da boca, beijou Noel ardentemente. Eliza beijava como se estivesse fazendo amor, mesmo sendo só um beijo.
Agora Eliza ofegante vira-se e vai dormir. Seu corpo magrinho ficava pequeno na grande Cama de Noel.  Noel trêmulo ouve uma voz na sua cabeça, narrando o momento. Ele sabia que haviam lembranças e memórias. E o que os diferenciava era a voz na sua cabeça, descrevendo o belo suspiro de Eliza com aqueles olhos enormes bem fechados, se aconchegando em seu ombro direito.
Eliza se apaixonou enquanto sonhava.