quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

pedido

eu poderia me acostumar com você me consumindo aos poucos.
sorrindo pra estranhos. sempre tão compenetrado na conversa alheia.
tão absoluto quanto eu
eu poderia me acostumar com tua ironia sutil, 
com o seu cruzar de pernas não romântico e aquele jeito lindo de me dizer nada.
tudo fica absolutamente suficiente.
eu poderia me acostumar com teus dedos me invadindo
com seu sussurro me machucando
com o ardor da convivência
eu me acostumaria com tua insanidade
com as madrugadas falantes
com nosso desejo gritante
e aquele silêncio mutuo mudo
você poderia se acostumar um pouco comigo também
acostumados, lidariamos bem com nosso tédio
e sim, eu quero seu vinho verde
você aceita se acostumar comigo?



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passado de um filhodaputa que reflete até hoje


partiu em vinte fatias perfeitas e não comeu.
porque se tivesse comido alguma merda teria acontecido.
adubariamos alguma planta que crescida logo apodreceria.
mas você não. você deixou meu coração apodrecer.
sem serventia alguma.
ele apodreceu.
os vermes o consumiram.
e doeu a cada amanhecer do dia.
o bom disso tudo, é saber da sua indigestão.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011



o amor é tudo o que você pode trazer e é tudo o que você não pode deixar pra trás. 


se você tiver algo pra me dar, e tiver algum espaço em seu coração
eu vou levar sua bagagem e o que mais você tiver a mão

se você me deixar caminhar ao seu lado e participar dos seus planos
eu te conto os meus, e talvez possamos fazer planos enquanto caminhamos

se você me ensinar suas verdades
eu te guardo na minha paisagem
e te faço o jantar
você cuida do jardim
você se mostra de longe e eu te tomo pra mim.

e aí sim, você assina seu nome com suor na minha pele

é que eu tenho um muito inteiro pra te dar
e tem espaço de sobra no meu coração...
você pode levar minha bagagem e o que tiver na mão?


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

como se não bastasse tem sempre uma vozinha ao pé do ouvido dizendo o que eu devo fazer.
eu já sei.
só tô sem vontade. uma desvontade absoluta e completa de tudo.
que sorrir dói e chorar é pouco.
ter que ser legal é um pecado (para nossa senhora da pequena morte)
e sentir olhos desviando dos seus é homicídio.
um sono atormentado entre o calor e a ausência de mãos.
como se não bastasse tem sempre alguém querendo quebrar suas pernas.
e minhas partes inteiras agradecem a gentileza.
acordo com os braços adormecidos embaixo do meu corpo e pergunto:
- porque mesmo eu os tiraria dali?
na barriga, borboletas assassinas querem me arrancar o estômago a fora e
o âmago amargo fica contemplativo ao observar.
escrever é um fardo e ler tão pouco me absorve.
como se não bastasse tem sempre alguém apaixonado por você
te xingando prazerosamente de vilã e simulando afeição.
acusando você com os olhos carentes e afirmando lealdade
como um cachorrinho que você bate e ele abana o rabo
como se não bastasse o resumo do tédio entediante dessas pequenas frases...

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começou de novo o inferno astral do consumismo de novo.
o trânsito não transita. as pessoas que andam, rastejam. as crianças que falam, gritam.
e como se não bastasse no meio do tumulto e do calor infernal, tem sempre uma velhinha muito querida que passa a ser odiosa devido a lentidão da propagação de informação e de seus morosos passos.
assim, não dá!
ai tem aqueles convites trágicos de ir pra casa de vó no natal, e enfrentar todo aquele interrogatório te recriminando por ter 24 anos e não estar casada (?). ou te escumungando por ter uma vida social longe do interrogatório interminável.
ou vc tem outra opção...
ficar com a família do seu namorado. E

conhecer a família dele.


isso implica em ter que sorrir, ajudar a sogra com a louça E ficar sóbria.
pior, isso irá remeter a um interrogatório interminável também.

eu tenho minha casa, com meus medos recheados de boas lembranças. tenho uns vinhos guardados e com sorte comida in delivery.

amém.




sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

léxico e amor


é que a vontade de morrer a perseguia adentrando as entranhas estranhas de sua perniciosa pele.
cada dia sem olhar para trás ela repetia as cenas e se repelia, de tal forma e de madrugada cortava os tornozelos.
um clichê para quem não sente o prazer de ver o sangue escorrer sabendo que é seu.
depois o sabão e o chuveiro a acusam ainda mais de sua dor.
essa dor a faz esquecer da demência absoluta de sua vida, e aos poucos a morte vai suspirando sua nuca
cada dia mais intensa.
as vezes Nina pensa ouvi-la dizer promessas de eternidade.
mas ai estremece e percebe-se só de novo.
é o vento branco na janela a convidando para pular.
acende um cigarro e engole mais uma dose.
então é seu corpo em chamas e o frio da morte consome sua barriga.
as vezes, ao imaginar pedaços de sua pele grudados a parede enquanto sua derme é flambada com vodca Nina Vomita. depois sente a satisfação da barriga cheia de seu próprio churrasco.
Nina não se vê louca. apenas desistente.
uma estatística que não se assume descontente. nem tão pouco o contrário.
Nina é um número que não sente mais.
e o encurtar dos caminhos era tudo o que ela tinha nas mãos.
cortando os passos, seguindo os pulsos.

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MINHAS PERNAS CONTINUAM AQUI.


partiu meu blues do céu,
depois pediu pra ficar me partindo e 
rachou minhas pernas ao meio dizendo onde iria se instalar
ai roçou parte do meu coração partido
que partido partiu para não se apegar demais
gemeu involuntariamente e eu
com meu sorriso culpado
cruzei as pernas e esperei teu olhar
partido e desafogado, lamuriou uma centena
eu que não sou partida, denunciei a verdade
- sou inteira.
e tu partiu partido, deixando minhas pernas inteiras.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

desaBA FO

de repente eu me senti invadida por um monte de merda.
que merda.

-MERDA!

fico repetindo as cenas na minha cabeça e não acho sentido algum.
queria ter dito tantas outras coisas. queria ter dito tudo.
queria ter dito que te acho um merda. que pensar em você sempre me dá uma sensação de gastura.
que odeio o jeito que você se acha esperto e não é. que você não precisa ser grosso comigo para me fazer sentir uma merda. que sinto nojo de mim quando você me olha com desejo.
queria dizer que seu odio gratuito me faz mal. e não deveria fazer.
não entendo porque faz. mas faz.
queria só entender o motivo de você me fazer tanto mal se eu só te quis o bem.
de gastar um tanto da sua saliva defendendo o quanto eu não sou aprovável.
meo deus eu sou só e humana. e sou só uma humana também.
não tem segredo ou mistério.
eu sou isso mesmo que vocês vêem mas ficam mistificando pra poder achar motivos pra me odiar.


levanto os olhos e a imagem de Maria me faz companhia, ela parece debochar de mim com aqueles olhos ternos encarando toda a minha revolta e se desfazendo aos poucos sem o menor cuidado.
- bem vinda ao clube.

domingo, 4 de dezembro de 2011

o negózi comigo é complicado. porque eu tô sempre alimentando as poeiras pelos cantos com mais poeira. deixo-as esquecidas e logo elas me dão uma alergia grave que só com muito anti-alérgico consigo me curar. deixa eu explicar isso de outra forma...
são como animais de estimação. fico com pena, estão abandonados e resolvo dar atenção...
um pouco de comida e carinho e o cara vai ficando... quando menos espero ele se instalou de tal forma que dizer pra ele (o animal) que eu não posso ficar com ele é traumático (pra mim!) porque ai ele vai latir ou miar muito alto, vão acordar os vizinhos e ele vai tentar me arranhar ou morder... e eu sempre acabo como a vilã. as pessoas gostam de me achar vilã. e eu gosto da atenção, oq posso fazer?
ai quando eu começo a retrucar" moro num apartamento pequeno, é proibido a criação de animais de estimAçao neste prédio, tenho alergia a animais de raça, não é você sou eu...."
o animal chora, ou sai batendo a porta (bom sinal) e depois volta dizendo o quanto eu sou manipuladora e sem coração.
eu sei que me desapego as coisas com agilidade, mas perceba ... somos dois e eu só tenho uma cama de casal que serve para um casal e eu não quero ser casal.
prefiro me esticar pela cama toda.



quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Poema em linha Reta



Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


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é dessa gente sem rosto e sem gosto que lambo e me dá o asco. desses santos, barões e baronesas sorridentes em salões lustrosos que me consomem os dias com a hipocrisia hipócrita de seus dias-dias. tudo é tão perfeito.
viva a ideologia da novela das 8.
sai pela porta dos fundos e ninguém viu.
e dessa vez, em mim nada nunca não foi dito.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

festa estranha com gente mal vivida

lindo, rico, gostoso e pouco esperto.
sim. sim. são eufemismos.
nunca achei que me envolveria com esse tipo vivente.

boa sorte, iza.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Festa estranha com Gente Esquisita

ontem e hoje,



mulheres são seres anti corporativistas. elas são muito dramáticas e vivem preocupadas demais em esconder o seu peso ou suas rugas para pensarem umas nas outras.
- que grande besteira.
eu sou uma mulher com Colhões, não escondo eles de ninguém. muito menos das mulheres que sempre se sentem ameaçadas comigo porque me acham monstruamente gostosa e eu acabo achando que elas são apaixonadas por mim.
é, Vocês mulheres que adoram ter meu nome em suas boquinhas maquiadas, são apaixonadas por mim.
eu não sou isso tudo que vocês acham.
não sou a Vilã! muito menos a mocinha. eu estou quieta tomando meu café no meio do tiroteio.
se atirar em mim, eu atiro em você.
mas eu não atiro na sua boca, fingindo lerdamente que somos amigas e colocando o rebanho de mulherzinhas contra mim.
vocês gastam tanto tempo tentando me excluir da sua vida que tornam minha presença indispensável pra sua sobrevivência.
prefiro usar da indiferença.
porque eu me divirto. vocês aguçam meu narcisismo insipiente. gosto disso.
e foi por isso que eu só consigo cultivar amizades masculinas.
eles são um pouco previsíveis mas são igualmente francos.
gosto da conversa exata e definível.
gosto de tê-los francamente.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

verdade

deixa eu dizer uma coisa sobre o dono da bola.
ele é só o dono da bola.
e por alguma razão acha que eu quero a bola dele. e fica com a bola cheia e cheio de espectativas sobre isso.
deve ser um fetiche. achar que sua bola é cobiçadíssima, para mantê-la cheia.
ha ha ha
grande piada interna.
esta mulher aqui, não gosta da sua bola. a sua bola já fez vários gols nessa rede aqui, mas hoje nem a trave resta para a porra da sua bola.
quanto mais rápido entender isso, melhor vai conviver consigo mesmo, sr. dono da bola.
pare de desperdiçar seu espaço comigo!

agora deixa eu expressar Meu desperdício de espaço:

o bom partido não é tão perfeito assim. certo dia, você acorda e não reconhece mais aquela cara pálida ao seu lado. não quer sentir a respiração do cara na sua nuca. na sua boca o gosto da saliva do cara te incomoda. e finalmente, você imatura, parte mais um coraçãozinho.

e vou deixá-lo partido, bom partido.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

linha e agulha.

pra você,

a palma da mão dele me dizia tudo.
por isso, e só por isso, não me preocupei em segurá-la enquanto caminhava.
Deus e eu, nós sabemos que ela não irá me soltar.

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pra ele,

- quero acordar com a boca colada na sua nuca. - ele disse.
e assim nasce minha paixão completamente minha. porque eu não a dividiria nem com ele.
ela é tão perfeitamente confusa que é impossível não se apaixonar pela sensação de estar apaixonada por ele.
e nesse ciclo, sua ausência nem me distrai. 
me atrai energicamente até a sua maldita boca que me bem diz.
seremos loucos mas felizes. 
o negózio é sermos.


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 só pra ele,

então nossas roupas nos enganavam constantemente só para ficarem juntas, e nossos corpos nús pendurados num varal sem futuro algum.
vamos cair logo. a terra estará suja mas nossas roupas ficarão juntas.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

a arte de atrair desocupados

é sempre assim.
mas eu só peço que seja um por vez.
os psicopatas.
primeiro alguém vai roubar minha vida virtual de no vo.
depois vai se dizer ignorado e esquecido.
e pior, vai achar que de alguma forma estarei ofendida.
que lisonjeio.
não tenho tempo pra me importar, sabe?
com o que você acha que importa. não há tempo.
tem gente deixando de existir por aí, e se não é seu dever pensar em algo pra ajudar, eu me sinto na obrigação.
e é feliz. mesmo que dificil, é tão feliz.

você não entenderia isso, porque passa muito tempo na frente do computador, vasculhando a vida alheia e se gozando sob o teclado do seu super descolado personal computer.

compute isso, seu puto!

abracinho.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

lençóis de mil fios.

quem não se assustaria.
se tentassem te roubar a alma com narinas alheias?!
esforço vão do tinhoso, desejoso de consumirme os dias
e a noite usar meus pecados e fazer-me deusa.

silenciosa, saio e ouço os passos do silêncio fazendo-me companhia.
meu salto fajuto pertuba toda a presença que remete a silêncio
odioso como sempre, sorri e dobra a esquina levando seu sorriso consigo

eu tive que sair. eu tive que ir embora. - te digo
me apertava com tanta força que senti meu corpo fundir-se ao teu.
mas a alma não. não com narinas. não com teu corpo.
nem com pactos sutis.

Deus, lá de cima deve me olhar e nãome ver.

- boa sorte, Iza.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

PAX in Brasas

eu sei do nosso não gostar recíproco, ou da nossa indiferença mútua.
sei do nosso compartilhar de asco.
sei de tudo que é nosso.
e sei que não é nada.
por isso, só por isso que eu não gostaria de gastar o meu gostar em odiar você.
porque se eu te odiasse, remeteria ao clichê irremediável que um dia te amei.
e isso é esquecível.
porque assim, teríamos alguma coisa. e não queremos que isso aconteça.
se mantermos toda a nossa mutualidade (SECRETA) em nos desprezarmos (não gratuitamente) , podemos conviver assim, sem odiar um ao outro.
mas você instiga minha irritabilidade e eu não sei discutir com quem eu não gosto.
porque nunca me interessa. porque você não existiu. porque eu inventei você na minha cabeça como invento todos os meus amigos imaginários. porque não têm significância e eu minto muito mal.
enfim  meu bem, não me faz gostar de te odiar. ou melhor, nem me deixa te odiar, porque aí eu gostaria.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

sempre Quase


Ela quase sempre estava apaixonada por ele. Quase sempre era fim de noite e ele estava deitado no sofá avaliando a economia do país. Ela não conseguia ouvir uma palavra de sua boca. Só imaginava o quanto era interessante ter alguém para aprender economia quando ela quisesse. Ela o encarava da mesinha do computador, com olhos desejosos e ele não ignorava. Ele sorria e pedia pra ela se ajoelhar. Ela se prostrava e adorava seu sêmen. E eles gostavam. E era doce, quase sempre.
O mundo era quase bom, os dias eram sempre péssimos.
Eles estavam quase sempre tentando fazer alguma coisa. Quase sempre não faziam nada. Trocar lâmpadas, lavar a louça, sorrir para parentes, pagar as contas.
Era uma desordem educada, que quase sempre dava em merda.
Quase sempre eles se odiavam. Ela agarrava-se nas pernas peludas de Getúlio pedindo clemência. e quase sempre ele a odiava nesse momento, mas não conseguia chutá-la.
Quase sempre ela o chutava.
- acorde. – dizia Cândice, ao se encolher entre os lençóis pálidos.
Quase sempre eles eram felizes e geralmente era domingo e fazia chuva. A cama, a ausência de roupa e as fotografias do álbum de casamento para ordenar.
Quase sempre eles davam certo.
 Quase nunca eles se deixariam.

Status: Quo

 Status
assim, não existo. porque não penso.
eu não sei pensar. sei agir. ou penso demais e termino fazendo o contrário. logo, meu pensar é Nulo.
tudo bem.
eu não preciso existir mesmo.

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Quo
é aquela agonia que precede a guerra.
posso sentir o cheiro de sangue dilatando as narinas num piscar de olhos salivantes.
eu digo o que condiz. eu gosto é do estrago.

in statu quo res erant ante bellum

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Conto de Amara



A pele era macia e tão luminosa. Amara se acolheu naquele braço inalando um aroma feliz e igualmente macio. Enquanto a maciez entrava em suas narinas pequenas, Amara pensava em como seria o mar. Já ouvira falar do figurão inúmeras vezes “sim. Deverá ser imenso e azul” um pensamento resumido, perto de tudo que se passava em sua cabeça.
- veremos peixes, titia? – perguntou.
- muito pouco provável querida.
“com sorte, veremos sim!”  pensava Amara.
- e veremos muitos pássaros também! – suspirou a pequena, se acolhendo ainda mais nos braços sardentos de sua tia.
Cássia sentia-se feliz em levar sua pequena sobrinha para ver o mar pela primeira vez. Mesmo sendo uma obrigação, era prazerosa. Cássia sabia que se ela não o fizesse ninguém mais o faria; Afinal, Amara era órfã e seus avós eram muito idosos para agüentarem toda aquela energia. Durante o longo percurso, Cássia não consegue evitar o saudosismo: “seria completo se o Augusto nos levasse. porque ficamos esperando a vida começar? O que faz ela começar?” e óbvio “porque Augusto me deixou? O que faz uma mulher de meia-idade abandonada? E pior! Porque a porra da vida não começa?! Onde está o maldito “pra sempre” que sempre falam?!”
Ao fundo ouvia uma voz fina empolgada, fazendo mil perguntas. Cássia não respondeu nenhuma delas. Invés disso, sorria e lhe olhava nos olhos, imaginando se também era cheia de sonhos e expectativas quando tinha a idade de Amara. A pequena não se importava com o percurso longo, com o ônibus coletivo lotado, muito menos com os odores expelidos naquele coletivo, afinal ela tinha os braços de sua Titia para lhe salvar.
Nesse momento, Amara dá um pulo e aponta:
- olha ele ali! Eu sabia que era mais bonito que na tevê. – e fez um respirar profundo, pressentindo o cheiro azul de sal.
Cássia sorri, espera o ônibus parar e segura aquela mãozinha rechonchuda deixando-se conduzir pelos passos embriagados infantis de sua sobrinha, que ainda reclama:
- vemlogotitia!
Como se toda aquela massa de água pudesse se deslocar em cinco minutos para o oco do mundo, só pra Amara ficar aborrecida.
Escolheram um quadrado na areia quente e branca, estenderam uma toalha colorida, e com poucos olhares Tia Cássia repreendia a pressa da sobrinha que não se intimidava e não cansava de dar pulos e apressá-la.
Cássia, sem pressa passava o bloqueador solar na menina gorduchinha, e a apertava levemente, sem perceber Amara transmitia toda a felicidade necessária para mantê-la viva. Cássia nunca havia reparado como os grânulos da areia se ajustam perfeitamente aos pés das pessoas, num massagear esfoliante agradável, quase superestimado.
Soltou a menina. Que saiu correndo para o mar e foi engolida na primeira quebra de onda. Sua tia olhou assustada, mas Amara levantou a cabeça, recuperou o fôlego descabelada e soltou aquele sorriso banguela satisfeito.
Não desistiu, um pulo, dois pulos, um mergulho desengonçado. E lá estava ela, arriscando seu nadar pela primeira vez no mar. Amara parecia imensa na imensidão do mar.
Titia Cássia não resistiu e juntou-se a ela. Temerosa, arrastava a sobrinha em direção a parte mais rasa próximo a praia. Mas Amara, dava de ombros e sumia embaixo da água esverdeada.
- do que você tem medo, titia?! Eu não deixarei você se afogar!
Cássia deu um suspiro profundo e pensou “isso foi o mais próximo do “pra sempre” que já vivenciei”.
As duas brincaram durante horas, como se tivessem achado um equilíbrio em toda aquela discrepância de idade. Até seus dedos enrugarem como os de duas velhinhas, até Cássia convencer Amara que precisavam de comida e até Amara convencer Cássia que havia visto um peixe.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

pretérito mais-que-perfeito

eu era jovem e não deixava as coisas acontecerem. e fazia tudo acontecer. e aconteciam. os estragos, as sobras, os momentos, músicas, blogs e uma vontade danada de escrever.eu absorvia tudo. sem o menor cuidado. escrever importava muito. escrever era tudo o que eu sabia.
escrever me definia.
as coisas não mudaram muito. só o suficiente. percebo que ocupo boa parte do meu tempo com coisas que não me definem. não é meu curso, nem meu emprego, meus amores, nem fazer parte de entidades, muito menos fazer parte de partidos.
isso não me define.
meu pretérito já me definiu.
meu futuro do pretérito talvez defina meu presente. certamente... certamente.

hoje Ella Fitzgerald cantando Cole Poter "So In Love" me define.

domingo, 9 de outubro de 2011

whole wide world



então ele a convidou para entrar. Ele ficou estático observando a calmaria de seus passos dentro de sua casa. Delicadamente dedilhava os móveis da casa como se estivesse absorvendo as vivências de Noel naquele lar. Tomaram duas cervejas, cada um deles e Noel ofereceu prontamente as sobras chinesas do almoço do dia anterior. Eliza aceitou. Comeram com as mãos. Eliza lambia sexualmente os dedos, Noel sabia da exibição e a esperava lisonjeado. Ele ficou imaginando como ela fica bonita em sua casa. Não como um enfeite ou um quadro. Eliza Não. Ela era como uma lâmpada. Como se todo aquele mobiliário sem uso, começasse a ter funcionalidade.. agora, a louça para o jantar que sua mãe comprara com a aquisição da casa, tinha porque ser posta. Os vasos, podiam ter flores. E Eliza ficaria linda em seu chuveiro raspando as pernas. Noel, imaginou comendo ela em todos os cantos da casa.
ela sorri segura como se pudesse ouvir os pensamentos do rapaz.  Levanta-se e vai lavar as mãos. Fica ouvindo do banheiro Noel arriscando no violão “Whole Wide World”.
Ele tocava de olhos fechados com a voz muito baixa. Quase um sussurro.
- There's only one girl in the world for you. And she probably lives in Tahiti... I'd go the whole wide world....
Ele estava tão complacente em seu sofá amassado. Eliza sentou-se a seu lado tentando entender o que estava acontecendo. De repente um desejo enorme saia pelos seus poros. E ela de mãos suadas com um sorriso no canto da boca, beijou Noel ardentemente. Eliza beijava como se estivesse fazendo amor, mesmo sendo só um beijo.
Agora Eliza ofegante vira-se e vai dormir. Seu corpo magrinho ficava pequeno na grande Cama de Noel.  Noel trêmulo ouve uma voz na sua cabeça, narrando o momento. Ele sabia que haviam lembranças e memórias. E o que os diferenciava era a voz na sua cabeça, descrevendo o belo suspiro de Eliza com aqueles olhos enormes bem fechados, se aconchegando em seu ombro direito.
Eliza se apaixonou enquanto sonhava.